2: Quebrada

 

Eu sinto como se uma corda estivesse apertando minha garganta. Minha voz não sai de forma alguma, nem grunhidos eu consigo pronunciar. É um caos dentro de mim. 

Estou deslocada. Eu pertenço ou não pertenço há algum lugar. Eu deveria ter saído daquele corte que fizeram na barriga da minha mãe as pressas? Eu tive oportunidade de morrer naquela pequena e transparente encubadora. 

Mas algo sobrenatural me fez sobreviver. E desde então eu venho sentindo socos no meu estômago. Não como um cara fortão de esmurra, mas sim como se a vida, tivesse um corpo e ela me socasse todo os dias. 

Eu poderia chorar na sua frente. Poderia abrir minhas entranhas e fazer você ver como eu sou por dentro. Mas ainda sim! Você não entenderia. Para sociedade eu sou um peso. Para a religião eu sou uma pessoa sem fé. 

Todo meu esboço rabiscado no meu caderno velho vermelho, está se apagando. É como se eu não tivesse lápis novos para contornar esse novo eu. Eu devo por um número na minha testa e dizer: Mais uma não resistiu, n° 135  pode lacrar essa vai direto para o salão de baixo. 

Minha mochila rosa e meu coberto de retalhos já são velhos de mais para me acompanhar. Eu estarei sozinha nessa caminhada. E provavelmente não vou conseguir avisar ninguém o quão horrível será depois de ser lacrada. Mas para quem permanecer aqui. 135 é apenas um número, porque ela não tinha nada o que oferecer para ninguém. Apenas sangue.