Cortes. São coisa do passado ela esta curada agora, ela toma os remédios no horário certo. Faz caminhada passa com a psicóloga semanalmente. Conta todos os seus segredinhos sujo. Mentira. Mentira. Mentira. Carrego no braço esquerdo, e nas coxas marcas que você nem imagina, de uma guerra que comecei em 2010 e nunca mais parei. Foram tantas laminas, tantos cortes, tanto sangue, tanto curativo. Tanta promessa. Nunca mais farei. Eu sei. Foi minha culpa. Foda se a culpa.
Foda se. Foi a comida. Eu comi, ela não me deixa em paz, as vozes estavam me deixando maluca. Os remédios estavam ali eu precisava tomar. Tudo parecia tão no eixo, mas estava totalmente fora do lugar. Eu odeio tudo e todos. Eu amo todos e tudo. Viver dentro de uma caixa, viver na ponta de um penhasco torcer pra cair, e torcer pra alguém te salvar. Isso é ter borderline.
Eu estava ali, com fome, tinha contado na carteira 435 kcal. Ok dava pra perder 0,500 gramas de um dia para outro. Mas tinha pão, e o pão estava fresquinho. Porra. Pra que comprar pão numa casa aonde TODOS SÃO GORDOS. Porque não é que ele pese 73, mas ele tem ,1,65 pra mim ele é gordo. Comi um pequeno, mais um grandinho. A culpa bateu, vozes, banheiro, banheiro, banheiro, casa, casa. casa. Subi para matadouro, fiz minha sujeira. Minha vergonha, lágrimas descem dos meus olhos.
Saiu tudo? Sei lá. Banho, banho, banho, laminas, laminas. - não hoje não, por favor, falo baixinho, - laminas, laminas. Pego duas laminas velhas do esconderijo, verifico se ela esta dormindo. Fecho a porta do banheiro conto 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10, fininhos, 2 grossos, 1 aberto. Sinto o cheiro de ferrugem subir pelo box, e sinto as pinicadas da água fazendo cocegas no meus novos buracos.
Conto uma historinha, 1. atingi a meta de 39 kg 2. tenho uma filha 3. estou internada por uma crise porque me cortei com vidro 4. preciso engorda pra sair do internamento 5. morro. Saiu do banho e procuro qualquer coisa pra cobrir meus braços. Fim do dia.