Eu acordo de manhã cedo, o sol está brilhando. O calor está torrando meu cérebro, e me sinto preenchida com toda essa coisa de “vida social”.
Coloco meus fones, e coloco uma música qualquer. Antes eu achava que minha vida tinha uma música pré definida. Hoje eu só coloco qualquer coisa para abafar 1. Meus pensamentos. 2 As pessoas falando de política. 3. Os adolescentes chatos.
O ônibus balança de um lado para o outro. Me sinto enjoada. ( Será que essa calça está marcando muito minha barriga???) Fico pensando nisso a viagem inteira. Puxo um pouco a blusa e me ajeito no assento.
( Eu tenho certeza que tem alguém me olhando e comentando o quão enorme eu estou.) Desço do ônibus e vou com a manada para estação. Sair todos os dias, te faz ver diferentes corpos. (Você não participa mais da comunidade, mas você consegue reconhecer outra como você, mesmo que ela tenha 50 quilos a menos que você )
Entro no trem e sempre tem gente fedida. Desconfortável. Cheio. Pânico. Suando. Minhas cicatrizes de auto lesão estão por todo meu braço. As pessoas ficam reparando e quando percebo, elas desviam o olhar.
(Problemática. Doente. Maluca. Aposto que deve agredir a própria mãe. Uma vergonha. Morre.) Minha parada nunca chega. A essa altura ela música já está estourando os meus pensamentos, mas não quero tirar os fones e ouvir as pessoas.
Quando saio, me ajeito de novo. Dezenas de pessoas passam apressadas, todos os dias. Se você cair no meio delas, elas passam por cima de você. Aqui é ou “mata” ou morre.
Dentro da minha cabeça eu sou pequena. Vazia. Sem graça. Feia. Obesa. Cheia de celulite e estrias. Me visto mal. Velha. Mas perto de “ amigos” eu sorrio, sou forte, decidida, palhaça, engraçada e doida. ( As duas aulas está acabando, hora de ir pro intervalo)
Eu deveria voltar a fumar... Ou comer uma maçã, ou barrinha, ou até um biscoito se arroz. Mas todos seguem para lanchonete. ( Eu vou inchar. Eu não posso. Só desta vez. Lembra do sabor. Isso vai aumentar ainda mais o meu peso. Dane se )
Depois de enfiar 2 facas e um canivete no meu estômago. Não aguento nem me olhar no espelho do banheiro.
Quando voltar vou enfrentar a mesma problemática da ida.
Porra de casa. ( A bateria está esgotando, está no modo perigo.) Tiro minhas coisas. E é como se a depressão, deixasse eu tirar a máscara que coloquei hoje de manhã. Me olho no espelho da sala.
(Está garota está morrendo. Está garota tem cortes novos. Está garota está sendo uma boa menina. Está garota prometeu não desistir de ter algo na vida. Está garota está misturando remédios fortes para dormir. Está garota está cogitando se jogar na frente do trem. Ou compra uma corda. Está garota já escreveu sua carta de suicídio. Está garota está contando os dias que ela aguenta. No dia que ela explodir, não restará nada. Apenas uma história para contar. Sobre uma garota que tinha olhos e almas vazias. E que sempre sentia fome. E que ter engordado, foi uma das piores experiências da vida dela. E por isso ela deu um fim na dor. )
Agora sim os vermes comeram minha pele, gordura, órgão, e eu serei leve. Serei leve tanto que poderei voar....
Um comentário:
Lí todas suas novas postagens. Eu queria que o mundo fosse menor e que fosse mais fácil estar perto fisicamente das pessoas. Tinha muita vontade de te conhecer. Eu leio os posts e eu escuto a voz que eu imagino como é a sua contando o que se passa. Você escreve muito bem e passa os sentimentos de uma forma muito real e a gente vai junto com você na viagem e como uma heroína de romance, nós torcemos por você. Eu tomo seroquel para dormir, ele só me derruba mesmo pra dormir de 4 a 6 horas direto se eu tomar 75 mg e eu só estou autorizada a tomar 6mg. Ele foi prescrito para a depressão temporal e para sindrome pós traumática. Um dos diagnósticos que me deram foi estar dentro do espectro autista mesmo que não de uma forma tão severa e disseram pra mim que eu tenho que me acostumar e me reeducar a lidar com situacões sociais, que não é ansiedade , é autismo. Queria que os médicos me dessem um remédio para tirar a fome, tirar a depressão e me tirar do mundo em momentos em que a ansiedade batesse.
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