É torturante! Amargamente torturante viver quando se tem uma mente que quer morrer. Você dança e flerta com a morte o tempo todo. Quando vai tomar remédio de manhã. Quando vai limpar a casa com os produtos de limpeza.
Quando vai ao mercado, e passa ao lado de uma rodovia. Quando está em total silêncio e sua voz some, e as vozes da sua cabeça estão falando tanto que não existe um modo delas calarem a maldita boca.
Hoje em dia eu consigo compreender melhor a minha condição. O meu corpo não quer morrer. Mas meu cérebro quer. A fonte maior da minha depressão e psicose, é meu cérebro. Ele é que está doente.
E um cérebro doente o corpo não funciona de maneira correta. Eu não sinto felicidade, alegria, nada. Seca como uma cisterna do sertão mais seco do nordeste. Vazia. Oco. Eu sinto dor. Eu sinto raiva. Eu sinto ânsia. Eu sinto angústia. Eu sinto medo. Eu sinto desprezo. Eu sinto repúdio por mim mesma.
Eu não tenho nenhum desses sentimentos por nenhum ser humano nesse mundo. Nem por aqueles que me fizeram as piores atrocidades. Mas por mim? Bom, se eu pudesse eu abriria vários e vários estiros no meu corpo. Só para a podridão sair para fora junto com o vermelho.
Eu pensei em fazer isso. Pensei. Ensaiei na minha cabeça. Mas não sei se meu casamento aguenta outras crises de automutilação dessa maneira. Eu já estou com meu braço numa situação terrível. E para o meu marido, automutilação é uma das piores coisas que existe.
A cara que ele faz pra mim quando acontece. Nossa é pior do que eu tivesse sei lá, nem sei o que comparar. Não sei como me ferir sem magoa-lo, dessa forma. Não tem sido fácil. Não lidar com tudo isso.
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